sábado, 21 de junho de 2008

Aqui não tem Casas Bahia

Uso o título aí em cima de subterfúgio pra começar este texto que fala de Passo Fundo, de mudanças, de escolhas, de anjos e demônios. E falar de mim, que é a única coisa que sei falar com absoluta convicção. Bem, nem tanto. Enjoo fácil de tudo é e muito ruim pra mim que sempre me achei "senhora da minha vidai" ter que admitir isso sem refletir se isso não é sinal de superficialidade. Mas não é. E tá sendo doloroso pra mim ter que me acostumar com isso.
Com esse "bicho" que tem dentro de mim que faz enjoar de comidas, lugares, pessoas. Não posso olhar salgadinho, melancia, cachorro-quente, por exemplo. Não sei explicar como isso se desenvolveu, então pesquisando no meu arquivo de memória achei uma explicação simples: comi demais essas coisas e agora não posso nem ver na frente.
Essa relação estranha com determinados alimentos me faz refletir que não enjoo só de alimentos, enjoo de lugares, da rotina, de ter que fazer as mesmas coisas. Outro exemplo que dou é que jamais poderia trabalhar em qualquer função como concursada, simplesmente porque fazer a mesma coisa o resto da vida me mataria.
Mas bem, onde estava. Quero falar sobre como é voltar. Voltar para casa depois de um ano e meio fora, voltar para casa dos pais, isso é muito estranho e não consigo me acostumar. É estranho voltar pra cidade que eu amo e para as pessoas que eu amo e não me sentir mais daqui. Como é pertencer?Não pertenço mais aqui, apesar de ainda não ter certeza se é aqui que quero ficar. Mas, quando fui demitida, sim, fui demitida e é sobre isso que também vou falar.Me deu um alívio no coração e a primeira coisa que senti é que tinha que correr desesperadamente pra cá.
Fui demitida porque eu tinha enjoado do meu trabalho há meses, e apesar de estar fazendo ele com total carinho e dedicação de sempre, aquilo tinha virado uma rotina horrível pra mim. Morar com as meninas da igreja, depois de morar com meu namorado rockeiro foi uma experiência punk na minha cabeça. Foi uma coisa totalmente anormal, mas de alguma maneira eu sentia que tinha que passar por aquilo. E fui demitida porque a pastora não gostou quando eu disse que ia morar sozinha, deve ter sido isso. Bem, deixa pra lá. Deixa pra lá, porque esses dias assisti, com alguns anos de atraso, "O diabo veste Prada". É por aqui que eu ia começar este texto, mas enfim, queria dizer que este um ano e meio fora, dos quais fiquei 1 ano trabalhando para um grupo evangélico, sobre as ordens de uma pastora em Porto Alegre foi totalmente aquele filme.Risos.
Me senti a própria personagem da menina que vai trabalhar na Vogue Americana e não tem nada a ver com aquele lugar. Mas, quem dera eu tivesse ido trabalhar na Vogue Americana e não ali dentro da igreja, porque nunca na minha vida me senti tão perto e tão longe de Deus. Nunca na minha vida vi as pessoas olharem para as minhas tatuagens e para meus sapatos com tanto desprezo, ai Deus, me perdoe, mas um dia eu vou escrever meu próprio "O Diabo Veste Prada" vocês verão. Quer dizer, lerão. Dez meses da minha vida submetida ao regime estranho de não ser quem eu sou.
Bem, eu tentei e adoro as meninas que moraram comigo. Até porque, ali eu era "a estranha no ninho" , a pessoa no lugar errado. Mas, entre mortos e feridos salvaram-se todos. Ou melhor exemplificando, me salvei.
Deus não tem nada a ver com isso, pois foram muitas as experiências com Ele. Obrigado por tudo meu Deus, por ter me salvo.
Ao Breno, porque a insanidade dele, a cocaína e as crises de ciúme me ajudaram a me manter equilibrada. Risos.
A idéia do livro não me saí da cabeça, o que vocês acham? Acho que o Edir Macedo ficaria muito empolgado em patrocinar a minha história, em dizer que aqui, o diabo não veste Prada, sobretudo, nem sabe o que ou quem é Prada.
Bem, sobre o filmezinho "gostoso de assistir" volto para refletir sobre as escolhas. É sobre isso que o filme fala, né? Sobre termos que vender nossa alma para sermos alguém? Não, acho que é sobre saber o que se quer, o que deseja. Você sabe o que deseja? Bem, as vezes eu acho que não sei. E talvez não saiba mesmo.
Mas, com certeza eu sei que não quero conviver com pessoas que julgam o meu caráter pelo preço que custa o meu sapato. Aliás, eu adoro sapatos. Qual o problema nisso? Não se pode ter bom-gosto, gostar de vestir-se bem e ser uma pessoa querida? Ser "do bem". Não se pode "ganhar bem" e não ter mau-gosto e ainda assim ter crises de insegurança e se maquiar bastante para disfarçar isso e esconder o que realmente importa no coração?
Ou salto-alto e maquiagem é incompátivel com bom caráter e alma exposta?
Bah, as vezes é muito difícil quando as pessoas não colaboram, quando a gente se esforça e isto é taxado com "querer aparecer".
Ufa... isto virou um desabafo? Bem, a quem possa interessar, estou em Passo Fundo, onde nem as Casas Bahia resistiu e teve que fechar as portas, e volto a falar disso, porque sempre tive a certeza de que as pessoas daqui jamais entrariam e comprariam nas Casas Bahia, pois pra elas o que me fez ser desprezada é o que mais importa. Mas, se me entendem bem, nem isso me importa. Sempre caguei para esses pequeno-burgueses.
Bah, será que estou mau-humorada? Nãoooooo. Estou feliz, por estar de volta. De volta ao ponto de onde parti e com as mesmas dúvidas e angústias de sempre e já querendo ir embora de novo.
Se alguém souber aí de um emprego onde eu possa morar perto do mar, usar salto alto num dia e Havainas no outro, me avise, por favor.
Se isto pareceu pra você um ranso, uma reclamação, to cagando para o que você pensa. Minha irmã diz que tenho "alma de cigana", mas você provavelmente ouvirá falar de mim.
Não percam as cenas do próximo capítulo.
Ah, antes de postar, quero dizer que amo muito um guri que ficou em Porto Alegre, amo da maneira mais singela e pura, sem maldade, ou com maldade, como queiram. Meu graaaande amigo Alan. Nem todo mundo é igual. E sempre fica saudades de alguém.