domingo, 18 de julho de 2010

Lorena, minha mãe

O meu pior pesadelo e que se sucedeu por muito tempo na minha infância, foi o da morte da minha mãe. Eu acordava com o coração saindo pela boca quando imaginava ela mais velha, e por muito tempo não entendi aquilo.Sonhei muitas vezes com ela de cabelos branquinhos e isso me assustava.
Minha mãe sempre foi minha referência de mulher, uma super poderosa, assim como a Mulher Maravilha nos desenhos infantis. E a Mulher Maravilha não envelhece.  Muitos anos depois e ela continua protegendo e trabalhando pra manter a ordem ao seu redor.
Foi sempre ela que estava nas apresentações de final de ano do colégio sozinha e que meu pai, por trabalhar muito, não podia estar. Foi sempre ela quem me levou e me buscou nas aulas de inglês, nas aulas de datilografia (nem existe mais) e por todos os cantos da cidade em que eu sempre quis me meter.
Lembro da minha mãe na final da Copa de 1994 levando eu e minha amiga no centro da cidade, pois eu ainda não dirigia com 14 anos e se enfiando numas das maiores enrascadas de sua vida, num tumulto onde não havia nem espaço físico pra sair, todos os loucos pirados se atirando em cima do carro na comemoração pelo tetra campeonato brasileiro e ela ali, firme.
Quando comecei a sair nas festinhas a noite e foi nessa mesma época, foi ela quem me levou e me buscou em muitas madrugadas quentes e frias por esse mundão de meu Deus. Eu e minhas amigas.
Como toda mãe ultra dedicada, poucas vezes a vi reclamar. Poucas vezes reinvindicou o mesmo carinho e atenção dado as filhas e ao marido e logo depois, a neta.
Foi ela quem incentivou eu e minha irmã a estudar, trabalhar, sermos mulheres independentes, como ela sempre diz "mulher não pode depender de homem, minha filha" e isso tendo a própria vida cheia de renúncias em prol da família.
E muitas, mas muitas vezes mesmo teve o maior coração do mundo para entender essa filha louca e que não mediu esforços para testar o seu amor.
Aliás, neta essa que é mais sua filha do que minha. Não preciso nem perguntar para a Valentina sobre as lembranças da infância dela, quem estava ao lado dela nos momentos difíceis, quem estava sempre em casa quando ela precisava, quando ela queria a sua mamadeira, trocar de roupa, arrumar o material da escola, porque eu também tinha que trabalhar e estudar.
Como sempre foi tão devotada no ofício de mãe e mulher, é difícil imaginar minha vida sem ela.
Essa casa sem ela.
Escrevo tudo isso um dia após uma das conversas mais difíceis da minha vida, a conversa na qual vejo minha filha chegando à adolescência, cheia de dúvidas, de sonhos, de perspectivas, assim como eu há mais ou menos 15 anos atrás.
Só peço a Deus que eu possa ser para a Valentina agora um pouquinho da mãe que a minha mãe foi e é para mim e para minha irmã. Que eu possa ter a mesma relevância na vida da minha filha, como a minha mãe tem na minha . Que eu saiba ser forte e sempre presente como tu mãe.
Porque tu ainda é o meu porto seguro e quem me dá segurança, mesmo eu sendo mãe também.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Fácil, extremamente fácil

É fácil deixar o batom de cor viva borrar a boca, pintar os olhos com uma sombra mais clara nos pontos certos, um blush rosa, o salto alto. É fácil manter a coluna ereta, os passos firmes, os olhos no horizonte,  blasé. É fácil ter a imagem que se quer. É fácil programar um sorriso, esconder uma mágoa, um ressentimento, uma frustração qualquer.
De perto, ninguém é normal, li isso em algum lugar.
É fácil, mas é difícil. E tem dias que o mais fácil é tão doloroso. Lutar constantemente para parecer feliz, satisfeita, em outro nível. Entretanto, o peito dói, o coração dispara, não há maquiagem, roupa, fotos no orkut ou qualquer frase de efeito que disfarce o vazio que mora aqui dentro.
Vontade de gritar, de estar em outro lugar, conhecer outras pessoas, viver outra vida. Preciso viajar, sair, sentir. Mas, e agora? Sentir o que? Eu já estive lá, eu já estive em vários lugares, cidades grandes, cidades pequenas, gente parecida comigo, gente estranha, com tantas pessoas diferentes e depois de um tempo tudo o que eu queria era  voltar para a minha redoma, para o meu porto seguro, para as pessoas que eu amo, e agora que estou aqui a mesma agonia  insiste em voltar no peito.
Respiro.
Quando vejo que as coisas não estão boas, que posso perder o controle, respiro para controlar o coração disparado e disfarçar insegurança. Muitas vezes vejo os olhos curiosos ao meu redor com tamanho desembaraço com que lido com situações que para os outros seriam bem embaraçosas. Bobagem. Tiro de letra. Aprendi a respirar com a excelente fonoaudióloga que frequentei em Poa. Ela me dizia "tudo é questão de respirar direito, Fê, tu é muito ansiosa".
Ansiedade, eu desejo tudo ao mesmo tempo e sei que não é possível. Não aceito.
O que ninguém sabe é que muitas vezes meus dentes estão mordendo com tanta força a minha bochecha pelo lado interior da boca que dói. Faço doer por dentro, para não doer por fora. E assim, consigo me sustentar com bravura em situações de perigo.
Não tenho medo do desconhecido, tenho medo de andar pelas ruas e lugares que já conheço e que me remetem a tanto tédio. Tenho medo de olhar para as pessoas que envelheceram. Para o tempo em que não estive por aqui e que passou, para as coisas que mudaram.
Estou enclausurada, presa, sem possibilidade de mudança instantânea depois de muito tempo, e é como se cortassem minhas asas e chega a doer no corpo.
Dói no corpo e na alma.
Preciso gritar, correr, fazer qualquer coisa. Mas eu preciso de mudança, me acostumei a voar.