sexta-feira, 8 de abril de 2011

Limpeza da alma

Objetos empoeirados, recortes de jornal, pedaços de obras inacabadas ou acabadas e hoje descartáveis. A cabeça tá um turbilhão, é a responsabilidade, responsabilidade, a dúvida quanto ao talento que andava adormecido, a insegurança quanto ao futuro, não tomo mais nada de Rivotril, nem anfetaminas, nem os calmantes, mas sinto falta de sair do meu corpo um tanto.
Limpo os armários, jogo fora pedaços de papéis e mais um monte de coisas inúteis guardadas a muito tempo e que não servem para nada, assim como sentimentos guardados e que também não servem, não ajudam em nada, eles tem que ir embora!
Corpo que sente preguiça, a pressão baixa, o sono da gravidez, singularidades da arte de parir, tudo tão diferente da outra vez. Tenho medo de envelhecer, não pelas rugas, pelo corpo decrépito, pela falta de agilidade, mas com o que o envelhecer faz com as pessoas, envelhecer sem sabedoria e vejo pessoas com vidas brilhantes e fins tão pouco felizes.
Sabedoria, discernimento, guardar o coração talvez seja o segredo.
Ontem fiz as contas e  reparei que nos últimos 5 meses eu me mudei 6 vezes de casa, 4 de cidade, e agora to com medo também de não conseguir mais ficar. Não quero me explicar, poucas pessoas entendem e já vi olhares demais de dúvida, de indignação, de curiosidade simplesmente porque não entendem e pra quem não entende não adianta explicar.
Só entende quem sente igual e a maioria nem sente mais ou sente diferente. A Valentina sempre entendeu, sempre tão igual, tão intensa, com a mesma alma atormentada por vezes. Eu sinto o que ela sente e sei exatamente o que a fere, o que faz mal.
Quero ajudá-la a canalizar tudo isso para o seu dom, para que possa desfrutar mais do que eu, para que encontre o caminho mais cedo do que eu. Evitar dores, cicatrizes, evitar que seja mal interpretada.
Não me importo mais com os outros, acho que nunca me importei realmente, mas me importo com quem amo e a vontade sair da realidade volta novamente. Fazer a catarse.
Tentar ajudar quem tanto me ajudou, porém eu não tenho paciência, tudo parece abandonado, tudo parece deixado pra trás e eu gostaria de saber em que momento se perderam, em que momento deixaram de querer melhorar.
 Em que momento uma pessoa desiste de viver? De querer evoluir? De ficar acomodada? São coisas que não entram na minha cabeça.
Tudo igual, isso me aterroriza.
A música, a poesia, falta de rotina, a indignação, a falta de acomodação, isso tudo sou eu.
Tudo isso é minha filha e também o bebê dentro de mim.
Por vezes sinto falta de uma vida mais segura e estável e um lar como os outros lares, mas aí tento me colocar no lugar de outras pessoas com vidas normais e estáveis e não me enxergo feliz vivendo aquela vida sempre tão segura e tão banal.
Insatisfação crônica, deve ser isso que eu tenho. No filme de Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona, a personagem da Penélope Cruz fala isso para a personagem da Scarlett Johansson "você sofre de insatisfação crônica", é isso. Me analisei.

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