sexta-feira, 2 de maio de 2008

Frio, travestis e insanidades

Chove lá fora, nao tenho como ir embora, embora minha casa esteja a poucos metros daqui. Na verdade, nao tenho vontade de ir. Que estranho. Curioso como nos adaptamos a tudo nesta vida. Tudo passa. A fome, essa também.
Nada do que parece ser, realmente é. Enfim, quando conheceremos a verdade. Qual é esta verdade. Por vezes concluí que a tinha encontrado.
Bolhas de sabao. Desde o primeiro dia na vida em que escrevi, isso já tem alguns anos e foi em uma daquelas agendas de adolescente, elas estao presentes. O que significam. Para que servem. Existem algumas explicaçoes que simplesmente ficamos sem.
Ou nao.
Nao gosto de dias cinzentos. Gosto de cores vibrantes. Quero ir pra casa. Nao para essa aqui ao lado, mas para minha verdadeira casa, mas onde será que ela fica. Toda vez que penso em uma casa como referencia, lembro as ruas, os cheiros, tudo em Passo Fundo.
Mas quando estou la, já nao me sinto mais em casa e a noçao de estar perdida fica um pouco maior, porque nada me é estranho. Dá para entender isto. Que coisa.
Insanidades, lembro de ti, as pessoas estao matando lá fora. Pais matam filhos, pais estupram filhos, Ronaldo come travestis. A mídia só fala bobagem. O que importa ninguém fala.
Hoje sinto falta de ti, tudo me lembra voce e isso nao é bom.
Achei que tivesse superado a falta que voce me faz.
Olho as fotos da minha filha e vejo que nao tive outra escolha a fazer.
Como eu desejei que nossas almas estivesse unidas pra sempre.
Mas a vontade da carne nao é a única que deve ser suprida. Com dor, abro mao de tudo que sinto, de tudo que vivi, de todas as paisagens que vimos juntos, clipes, filmes, praia.
Ao mesmo tempo em que há dor, há uma imensa paz em meu coraçao.
Te amei com toda força, com todo desejo, com toda intensidade. Tenho que voltar para a realidade. Para as contas, para o que me pertence afinal.
Para o vidro do carro que foi consertado, para as contas a pagar, para as responsabilidades da dura vida de uma jornalista que queria ter ficado morando na praia, vendendo xis salada e sentindo a brisa do mar.
Mas a vida tem dessas coisas, é necessária a solidao agora.Esta que estou sentindo hoje.
O sangue escorre quente nas coxas, meu útero descamando e meu coraçao parece que saí pela boca.
Muito cinza lá fora. Muito barulho. Tenho sono, mas quando chego em casa, passa.
Vontade de comer pipoca, rapadura, chocolate , tudo.
Vontade de que passe rápido esses dias, quero logo chegar a algum lugar
Meu coraçao tem vivido em paz, mas nas horas de tormento é que preciso escrever.E o estranho é que nao estou nada insana, nada descontrolada.
Estou sóbria. E é muito ruim estar assim. Fria.
Congelada de sentimentos, congelada pelo frio que faz lá fora, congelada de ar-condicionado.
Descubro alguns novos prazeres que vao além dos carnais.
Tudo deve ter uma explicaçao. Mas nao sao explicaçoes que quero.
Muito desconexo está ficando tudo isso, mas é assim mesmo, só escrevo o que me vem a mente.
Preciso beijar na boca, deve ser essa a resposta.
Cada um com seus problemas, enfim. Suspiro, o Alan chegou aqui agora e perdi o raciocínio. Nao sei mais o que escrever. Mas posso dizer que o Alan foi uma das boas descobertas aqui em Porto, amigao, apesar de ter quase a idade da minha filha, pode-se dizer que nos entendemos bem. Exagero, mas posso agradecer pelos novos amigos que estao surgindo no caminho.
Que Deus tem escolhido pra mim. Tudo tem se encaminhado da melhor maneira.
Mas eu nao consigo ficar sozinha por muito tempo, espero que entendam. Necessidades físicas mesmo.
Já era para ter ido embora há horas e nao consigo. Angela, o que será que tu está escrevendo, estamos produzindo a mesma coisa. Que viagem, tudo está bem melhor agora.
Mesmo que nao entendam nada, está tudo bem. Tudo bem, porque dentro de mim há uma alivio. Sorrio. Sorrio e ofereço um chimarrao para o Alan. Pausa.
Pronto. Angela, por favor, pare de me chamar no MSN.
Desejo nao esperar muito das pessoas, porque neste momento ainda há feridas cicatrizando e nao posso me machucar.
Nao existe medo, se há algum sentimento que nao nutro é este.
Bah...acho que vou apagar tudo isso, porque de repente a alegria voltou. Sao as bolhas de sabao, bola de pingue-pongue. Livro bom para ler. Chuvinha que ,de repente, passou a se tornar minha amiga. E sem deixar rolar uma lágrima, volto a sorrir.
A menina que escrevia sobre orgias, hoje escreve sobre milagres. E é nessa misteriosa e gigantesca dualidade da vida que renasço. Cresço, diluo, permaneço.

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